PERSPETIVAS TEÓRICAS: TURISMO CRIATIVO RESPONSÁVEL
A desruralização de Portugal é um processo que se arrasta desde 1960 (Silva, 2009: 35). As políticas de desenvolvimento rural desde então têm-se centrado não tanto na agricultura, mas no turismo, apoiadas em projetos de financiamento público que tentavam travar o despovoamento e reconverter os territórios rurais portugueses, em termos funcionais e simbólicos. O caso da região do Douro é representativo da questão enunciada.
O Douro, localizado no interior da região Norte e constituído por dezanove concelhos, detém um conjunto de recursos endógenos singular, entre os quais se pode distinguir a região vitivinícola demarcada mais antiga do mundo, uma importante rede hidrográfica em torno do rio Douro e seus afluentes, dois itens mundiais classificados pela UNESCO (Alto Douro Vinhateiro (paisagem evolutiva viva, em 2001) e o vale do Côa (o local mais emblemático de arte rupestre paleolítica de ar livre, em 1998)), para além de outros valores patrimoniais e arqueológicos (igrejas, casas senhoriais barrocas ou mosteiros).
No domínio da longa tradição vitivinícola do Douro, salienta-se a marca “Porto”, mundialmente reconhecida e associada aos vinhos do Douro. Os vinhos do Douro, por sua vez, têm vindo a assumir uma reputação de qualidade, confirmada com vários prémios e opiniões de peritos. Para além do vinho e da vocação agrícola, emergem outros produtos importantes, nomeadamente na fileira agroalimentar, tais como a maçã, a castanha, a cereja e o azeite.
Não obstante, a riqueza em recursos endógenos contrasta com indicadores económicos e sociais da região. Estes constrangimentos decorrem, essencialmente, de dois fatores centrais. Por um lado, da débil estrutura demográfica, que resulta da diminuição da sua população residente (característica dos territórios de baixa densidade e interioridade) e do sucessivo agravamento do seu envelhecimento. Por outro lado, do fraco dinamismo económico. Como comprovam os dados do INE de 2011 (www.ine.pt), entre as regiões do Norte, o Douro registou índices negativos em diversas variáveis: segunda região com pior desempenho em termos de PIB per capita nacional (67%), região com maior sazonalidade, segunda região com uma menor estada média (1,8 dias) e segunda região menos internacional (17% dos hóspedes). Por conseguinte, o turismo no Douro não se alavancou (Fernandes de Sousa, 2013), caracterizando-se enquanto destino do interior, acompanhado por índices de desenvolvimento escassos e com uma fraca distribuição de riqueza.
Em suma, pese embora se possa reconhecer um aumento em termos visibilidade e reconhecimento internacional, o turismo no Douro continua aquém das expetativas dos agentes sociais envolvidos. Neste sentido, é importante assinalar que o turismo é definido como uma atividade económica que resulta do aproveitamento de recursos locais endógenos (INE, 2011), sendo-lhe concedido um papel de força motriz no tocante à retenção e atração de população e, consequentemente, de desenvolvimento regional (RCM nº 150/2003). Deste modo, o turismo pode atuar no sentido de contribuir para um panorama mais benéfico para o Douro.
Referências bibliográficas:
- Fernandes de Sousa, Carlos Alberto (2013): Impacto no turismo na região demarcada do Alto Douro Vinhateiro, após a classificação de património mundial da humanidade pela UNESCO. Bragança: Instituto Politécnico de Bragança (tese de mestrado inédita).
- INE (2011): Retrato Territorial de Portugal 2009. A expressão territorial dos destinos turísticos, da sustentabilidade demográfica e da produção industrial. Lisboa: INE.
- Silva, Luís (2009): Casas no Campo. Etnografia do Turismo Rural em Portugal. Lisboa: ICS.