Dia Mundial do Turismo: 27 de setembro de 2017
Debate com os alunos da licenciatura em Turismo da UTAD
Turismo sustentável – responsável: Cosmética, utopia ou realidade? Mais além da turismofilia e da turismofobia
No dia 27 de setembro de 2017 a licenciatura em turismo da UTAD celebrou o dia mundial do turismo com um debate sobre turismo responsável que contou com a participação dos alunos do 3º Ano de Turismo, docentes e investigadores do CETRAD. O objetivo do debate foi pensar o turismo do futuro e o seu papel na relação com os eco e etnodesenvolvimentos.
Xerardo Pereiro (diretor da licenciatura de turismo da UTAD) começou o debate por contextualizar a problemática do turismo sustentável e a importância da responsabilidade do turismo num cenário atual de moralização do turismo e de tensão entre dois polos ou movimentos sociais classificados como turismofilia e turismofobia. Neste sentido passamos de uma posição pró-turismo própria dos anos 1960, a outras catalogadas como antiturismo e alterturismo. Como exemplo desta moralização ideológica do turismo foram mostrados exemplos de Barcelona, Berlim e Veneza.
Seguidamente, Edgar Bernardo (UTAD-CETRAD) introduziu o conceito de sustentabilidade 2.0 (ecológica, económica, social, cultural, política e tecnológica) na sua relação com o turismo. Também abordou as diferenças entre turismo sustentável, muito criticado hoje e considerado cosmético e discurso vazio por muitos, e o turismo responsável, no qual estão implicadas as empresas como princípio, prática, marketing e responsabilidade social corporativa.
A continuação, Artur Sá (UTAD), responsável pela cátedra UNESCO da UTAD em Geoparques, Desenvolvimento Sustentável e Estilos de Vida Saudáveis, fez uma exposição de princípios, exemplos e caminhos concretos para um melhor turismo responsável. Entre os princípios destacou a diferença entre um geoparque e um parque temático lúdico, e a relação entre patrimónios culturais e naturais, a re-conexão entre seres humanos e a terra –ou GAIA- (planeta com 4.600.000 anos de história), a ligação entre geodiversidade e a biodiversidade, o desenvolvimento sustentado e o sustentável. Afirmou que o sustento de um geoparque é o território (ex. Geoparque Terras de Cavaleiros), e que este representa uma estratégia de desenvolvimento sustentado com envolvimento da comunidade. Entre as práticas, fez uma análise detalhada de alguns exemplos de geoparques na China e do Geoparque Naturtejo, gerido por uma empresa intermunicipal e orientado ao turismo, para ilustrar como o geoturismo anteriormente era um nicho e hoje é um segmento muito importante. Também analisou o Geoparque de Arouca, com benefícios económicos de 15 milhões de Euros ao ano, e os Passadiços do Paiva. Este último foi utilizado como exemplo dos riscos de massificação turística (ex. chegou a ter 12.000 visitantes por dia) e a necessidade de regulamentar e limitar o acesso (hoje limitado a 3000 pessoas por dia). Logo também contrastou dois exemplos o caso de Foz Côa, onde se investiram cerca de 8 milhões de euros para atingir 32.000 visitantes por ano (longe ainda de ultrapassar a capacidade de carga), e a Casa das pedras parideiras (Geoparque de Arouca), no qual se investiram apenas 200.000 Euros e atingiram 30.000 visitantes ano, criando emprego, envolvendo a comunidade local e educando aos visitantes numa experiência imemorável. Artur Sá conclui a sua excelente intervenção colocando a ênfase na importância da investigação e da comunicação com o visitante.
O debate posterior foi animado por Ricardo Bento, Nieves Losada, Veronika Joukes e Mila Simões de Abreu (UTAD – CETRAD). Foram abordadas a capacidade de carga turística de um território, o défice de planeamento, a importância da redistribuição da carga, a necessidade de controlar as reações compulsivas ou impulsivas contra turismo utilizando ferramentas de planificação turística. Além mais foram debatidos outros assuntos não menos importantes como a falta de definição dos limites de carga turística em muitos destinos, a diversidade nas dificuldades de acesso a determinados destinos turísticos (ex. cidades) e a dificuldade em controlar estes acessos, a falta de coordenação e articulação entre políticas que satisfaçam os turistas, o turismo e a comunidade local. Após duas horas de intercâmbio e debate de experiências e perspetivas, o ato foi encerrado com satisfação pelos seus participantes.
Edgar Bernardo (UTAD|CETRAD)
Artur Sá (Cátedra UNESCO|UTAD),
Xerardo Pereiro (UTAD|CETRAD)
Veronika Joukes (UTAD|CETRAD)
Nieves Losada (UTAD|CETRAD)
Ricardo Bento (UTAD|CETRAD)
Foto: Setor de Fotografia da UTAD